domingo, 10 de outubro de 2010

Tábuas de Salvação

A expressão "Tábua de Salvação" é usada para designar muitas situações, mas sobretudo aquelas que dizem respeito à questões religiosas. Queria hoje usá-la para designar pessoas. Sim, isso mesmo, pessoas. Mas então pessoas podem ser a "tábua de salvação" de alguém? Não deveriam ser, posto que nós somos dotados de potencialidades e capacidades que nos faz termos condições de salvarmos à nós mesmos, sem dependermos de outros. É claro que muitos ajudam-se mutuamente, e isso é das coisas mais grandiosas e divinas do convívio humano. A ajuda mútua, a verdadeira fraternidade. Mas isso não é tábua de salvação, já que receber ajuda num momento de dificuldade não designa ninguém a não ser capaz de ajudar à si mesma.

As "tábuas de salvação" à que me refiro são aquelas que elegemos como "as únicas" que podem dar equilíbrio à nossa vida. Sem elas, portanto, nada somos, ou nada conseguiremos, ou pior, nada mais nos restará à não ser a dificuldade e a desventura. Como gosto sempre, queria exemplificar essa situação com os relacionamentos, porque são eles, em muitos casos, a mola propulsora das nossas escolhas, decisões e até sacrifícios pessoais.

Particularmente eu fico muito triste quando vejo alguém depositar em outra, o único motivo de sua luta por melhoria, ou de sua plenitude íntima, abrindo mão totalmente de si mesmo (como individualidade e não enquanto ego) para "ser melhor" para o objeto de sua devoção. Esse "ser melhor", naturalmente inclui ser do jeito que o outro queria, e não do jeito que ela própria se sentiria tão feliz, mas tão feliz consigo mesma, que lutaria sempre e mais por si mesma, não por outra pessoa. Por isso penso o seguinte: quando alguém ama-se por causa de outro, e não por causa de si mesmo, tem alguma coisa errada com esse auto-amor. O auto-amor inclui, indubitavelmente, a satisfação conosco mesmos, por quem somos, pela divindade que existe em nós, e não pelo que gostaríamos de ser para sermos melhores para determinada pessoa. Isso não é auto-amor, é anulação. Um pseudo-altruísmo, que cedo ou tarde, ruirá, ou deixará a pessoa tão perdida dela mesma, que lembrará de si mesma não como "Maria", mas como "mãe do Joãozinho", "esposa do José", "filha do Manuel". Ela será tanto dos outros, ela terá "melhorado" tanto pelos outros, terá vivido tanto em função de ser melhor para os outros, que não lembrará mais do seu próprio nome.

Aí que entram as tábuas de salvação. Quando uma pessoa chega a tal estágio de esquecimento de si, ela naturalmente fica desorientada, e obviamente sem saber como fazer para sair de uma situação que a atormenta, mas que ela nem tem coragem de olhar-se para identificar de onde vem tanta inquitude íntima, ela acaba por simplesmente reagir, ficando com o equilíbrio "emocional-racional" descompensado. Ou fica um vulcão emocional de difícil convivência, tendo muita dificuldade para racionalizar e refletir sobre as situações que vive. Ou então fica tão racional, que até seus gestos de amor são contabilizados, racionalizados, medidos e claro, matematicamente "corretos". E não raras vezes reage violentamente, seja machucando-se ou machucando outros, com atitudes extremamente impulsivas ou friamente calculadas. Nesse estágio ela pode ver-se numa situação tão desesperadora, que olha em torno de si e tudo que desejaria era fugir dalí e nunca mais voltar. Mas então ao mesmo tempo ela vê-se sem saber como viver sem aquela situação ou sem aquela pessoa, porque eles e não ela, são sua referência máxima, o alicerce de todas as suas ações.

Ela só aprendeu a viver por aquelas pessoas, por aquela situação, por aquela causa. Ela não sabe mais viver por si mesma, e amar como extensão e consequência do seu próprio auto-amor. Então maridos difíceis, por exemplo, que mais que notadamente não a amam, só desrespeitam e a tiranizam, são suas tábuas de salvação. Embora elas saibam e até consigam dizer para algumas pessoas mais chegadas, que não amam mais o marido, ou que eles são tudo que elas não sonharam num homem, ou até mais, que eles só prestam mesmo como pais, nunca como esposos, elas não conseguem assumir isso para si mesmas, e passam dia após dia, fingindo para si mesmas que os amam e que sem eles não sabem viver. Claro que não sabem viver. Elas não sabe viver sozinhas, não sabem serem felizes por si mesmas, não sabem simplesmente existir e dar graças por isso. Esses maridos, ou filhos (há mães que se desesperam quando os filhos decidem se casar), ou mães e pais, passam a ser suas tábuas de salvação.

Enfrentam o sofrimento que for para não perderem essas pessoas, para agradarem essas pessoas, para que elas jamais decidam ir embora. Fazem o que for para fingirem para si mesmas, e até para essas pessoas, que as amam e as querem por perto. Se elas se mostram insatisfeitas ou ameaçam partir, a vida dessas pessoas ameaça acabar, e elas podem até preferir suicidarem-se a viver com a possibilidade de terem uma vida sem suas tábuas de salvação. Então nós vemos a contradição em muitos dos discursos dessas pessoas. Nos momentos em que a suas tábuas estão alí seguras em suas mãos, elas se sentem livres para dizerem que não suportam mais viver com aquelas pessoas, que sequer têm interesse em investir mais no relacionamento, que estão alí porque elas tem isso ou aquilo de bom, embora não tenham nada de bom no papel de que lhes cabe, ou porque pensa nos filhos, porque é mais cômodo, e chega ao ponto de se interessarem por outras pessoas e terem casos extra-conjugais. Mas é só surgir a ameaça de rompimento, ou um afastamento imposto pela vida, que essas mesmas pessoas ressurgem entre lágrimas, desespero e dor, dizendo o quanto a sua tábua é o seu grande amor, a pessoa mais importante do seu mundo, o quando ela é incompleta sem a sua presença e por aí até as mais arrebatadas declarações de amor incondicional.

Sim, isso mesmo, amor incondicional, que muitos confundem com amar sem ser amado. Amar incondicionalmente quer dizer amar sem restrições, amar sem condições, amar pura e simplesmente por amar, por nada mais. Não quer dizer amar sem ser amado. Essa é uma das características do amor incondicional, não seu significado. Agora caiamos na real: que mulher normal desse mundo (exclui-se as almas angelicais que volta e meia caem na Terra) amaria um homem sem desejar ser amada também? Que mulher romântica e normal nesse mundo, por exemplo, acharia que o amor de sua vida, é um homem que não seja capaz de lhe dizer nem mesmo um "eu te amo", que não seja capaz de lhe dar nem o menor e mais simplório gesto de romantismo? Sejamos francas: nenhuma! Mulher alguma, que seja minimamente bem-resolvida e romântica, e não seja uma alma verdadeiramente elevada e desprendida de um amor mundano, diria que um homem com esse perfil é o seu grande amor. Muito provavelmente ele é sua tábua de salvação, não o homem de seus sonhos. Se ela diz isso é porque está doentiamente se enganando e enganando o outro, não porque elevou-se à patamares realmente evoluídos de amor romântico incondicional, capazes de amar por esse prisma sem serem minimamente correspondidas em seus anseios de mulher. O mais notável é que essas pessoas continuam sendo egoístas, orgulhosas, cheias de falhas, como todos os seres-humanos normais aqui da Terra, mas só no amor romântico (ou filial, ou maternal) demonstram uma tamanha evolução espiritual, com um desprendimento e altruísmo capaz de deixar os anjos com inveja! Infelizmente não é evolução espiritual, mas as mais tristes e dolorosas máscaras... 

Mas é claro que ele pode ser o homem dos sonhos de outras mulheres, mas não o de uma mulher que tem em seus anseios femininos mais secretos e doces, o romantismo do homem amado. Essa mulher, se diz para um homem com esse perfil, que ele é seu grande amor, sem dúvidas se apagou tanto, mas tanto, que está tentando ser a parceira ideal dele, abrindo mão de seus anseios femininos, negando-se enquanto mulher, para se tornar os anseios masculinos dele. Provavelmente ela terá sua tábua de salvação sempre ao lado dela, mas há que preço!

É muito, muito triste ver isso, ver uma pessoa, no papel que for, esquecer-se tanto de si mesma, que tenha a necessidade constante e perene de encaixar-se num lugar onde ela não cabe, ao mesmo tempo que tenta encaixar uma pessoa num lugar onde ela também não cabe, só para não ter que olhar verdadeiramente para si mesma, abrir mão de sua tábua de salvação (seria um ato não só de auto-respeito, mas de respeito ao outro, porque é muito humilhante ter alguém que nos ame porque somos suas tábuas de salvação) para aprender a andar sozinha, e então sim, conseguir saber "com quem ela deve andar" para viver uma vida de verdadeira partilha, de verdadeira utilidade, e sobretudo com as mãos verdadeiramente unidas.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Casamento e Interesse

Muito se fala sobre o casamento por amor, mas pouco se fala sobre o casamento por amor aos próprios interesses. E aqui não digo sobre os casamentos arranjados e motivados pelos bens materiais, mas de casamentos que podem até se formar por paixão, mas que depois se transformam em um típico jogo de interesses.

Penso que hoje, a maioria dos casamentos chegam à esse patamar um dia. Podem ter começado com amor, com paixão, com entusiasmo de construirem uma família, mas que depois, com o tempo e as mudanças naturais que os cônjuges sofrem, o casamento começa a funcionar apenas porque é mais interessante para ambas as partes que ele continue.

Vê-se, nesse estágio, as famosas aparências, que na maioria das vezes são mantidas para ambos os cônjuges mesmo, não necessariamente para a sociedade. Eles precisam acreditar que o casamento não acabou, que o amor não acabou, que a solidão íntima que vivem é questão de tempo, que tudo vai passar um dia, mesmo que esse dia fique cada vez mais longe, emocionalmente. Há cônjuges que sequer amigos conseguem ser, quiçá pares românticos. Mas mesmo quando isso é óbvio para qualquer um que tenha um pouco de intimidade com esse casal, eles continuam dizendo que "o amor deles transcendeu para um patamar mais evoluído de relacionamento": cada um vive sua vida mental e emocional, cada um tem seus amigos que sequer se conhecem entre si, cada um tem seus interesses, e no máximo concordam na educação dos filhos. É, realmente um patamar mais elevado sim, mas não de amor, e sim de auto-ilusão.

É triste ver um casal nesse ponto, onde a separação seria mesmo o mais saudável, por uma questão mesmo de auto-respeito. Das piores coisas que existem é uma mulher, por exemplo, se prostituir para o próprio marido. Aquela mulher que não sente mais nada pelo homem com que vive, que apenas está acomodada à vida que já construiu, mas que continua tendo que deitar-se com ele. Não tem outro nome para isso além de prostituição. Ela vive intimamente com um homem que não ama mais, que não a completa mais, que nem mesmo amigo dela é mais, em troca de ter uma família.

Vejo mulheres, em confidências (que por acaso não gosto de ouvir, mas até que aprendi a dizer não, ou melhor, "não me conte sua vida íntima com seu marido", eu ouvi bastante coisa), relatarem o quanto seus maridos são ruins de cama, com direito a piadas degradantes sobre o desempenho do companheiro, o quanto se sentem sozinhas mesmo acompanhadas, o quanto são incompreendidas e até tolhidas em escolherem desde os amigos até as coisas mais banais, e mesmo assim dizerem: estou com meu marido porque somos ótimos para educar os filhos, porque ele me dá uma vida estável, porque ele não me bate, não bebe e nem tem vícios. Isso é prostituição. Se entregam à um homem que não lhes dão prazer, que não amam e nem mesmo respeitam, e igualmente não são amadas e respeitadas, só para ganharem uma família, estabilidade e segurança no lar.

Enfim, o fato é: vivem com eles, têm vida sexual ativa e regular com eles, não por amor, mas por interesses pessoais. É prostituir-se para o próprio marido. E com agravantes, porque as prostitutas de luxo, em muitos casos, podem selecionar seus clientes, ou serem livres para terem uma vida só delas em paralelo: estudarem, viajarem, terem amigos, cuidarem de si mesmas. Essas esposas além de se prostituirem, estão presas à um homem que não lhes interessa nem emocionalmente e nem sexualmente, e não são livres para viverem a própria vida, e pelo menos crescerem pessoalmente enquanto mulheres.

E é por isso que acredito que, por mais difícil que possa ser para a pessoa, ela precisa desesperadamente assumir para si mesma a mentira que vive, para então, mesmo que seja aos poucos, ir se libertando dessa relação e aprendendo, pouco a pouco, a ir embora viver a própria vida, com dignidade e auto-respeito. Vivendo sozinha mesmo, ou encontrando um outro companheiro com quem ela possa fazer amor de verdade, partilhar o mundo dela, receber o mundo dele, sentir realmente prazer emocional na relação, em suma, ser feliz.

Há quem resista por anos e anos à fio numa relação assim, porque é mais importante para essas pessoas terem uma família tradicional, do que viverem a realidade da mudança, da necessidade de renovação e até da honestidade com eles mesmos. E muitos, mas muitos mesmo estão assim porque têm pavor de assumirem até para eles mesmos que o amor acabou, que a relação acabou, que simplesmente não deu certo, como muitas coisas na vida não dão. A maioria tem isso num nível quase consciente, que vêm à tona nos momentos de maior sofrimento, mas quase que instantaneamente, recolocam no subconsciênte e abraçam outra vez a máscara da estabilidade. É triste ver tanta gente sofrendo por medo...

Ficam todos os dias buscando detalhes que lhes provem que o amor ainda existe, ou procurando nas entrelinhas qualquer coisa que lhes diga que vale à pena continuar investindo. E cada dia esse investimento sai mais caro... Um dia, quando ambos estão doentes emocional e psicologicamente, "a casa cai", e não raras vezes o estrago é grande, de difícil recuperação. E muitas vezes o estrago é tão grande que eles nem tem mais coragem, condições e até disposição para recomeçarem.

Não há nada mais humilhante para uma pessoa que outra estar ligada à ela por compromisso ou interesse pessoal, mesmo que esse interesse seja a educação dos filhos. A união de qualquer casamento deve ser o amor e o prazer emocional que a vida à dois lhes proporciona, a saúde que o companheirismo autêntico lhes dão enquanto individualidades. Na verdade um casamento de mentira não trás estabilidade, não garante a segurança no lar e menos ainda educa os filhos, pelo contrário, destrói toda a esperança que eles poderiam depositar na sagrada instituição da família e na felicidade plena que o amor pode dar à nós, seres-humanos, que fomos criados por Deus para o amor, não para a mentira.

Educação e Exemplo

Queria tratar aqui de um assunto que é sempre muito debatido, que é a educação dos filhos. Mais especialmente sobre a nossa vida como a maior e mais eficaz mestra dos nossos filhos. É de conhecimento comum que os filhos se espelham muito nos pais, e que na idade adulta vêem-se repetindo tudo aquilo que viam seus pais fazerem. Isso aí: tudo aquilo que viram seus pais *fazendo*. Embora quase todos os pais comprometidos com a educação saibam disso, não são todos que são comprometidos com a auto-educação. O que isso quer dizer em termos práticos? Que não adianta falar para o filho não beber, por exemplo, e entornar copos de cerveja na própria boca. Ou ensinar que refrigerante faz mal à saúde, com uma garrafa de coca-cola na geladeira à disposição dos "adultos da casa". Não adianta proibir o filho de assistir desenhos violentos, e depois ir na locadora alugar filmes de vampiros (que estão na moda, infelizmente) e guerras.  Não adianta vetar o acesso do filho à literatura de gibis modernos e passar horas à fio lendo livros de arte duvidosa, com cenas de violência explícita, por mais românticas que sejam. Agindo assim não estaremos ensinando nossos filhos que tudo isso não é bom para a saúde integral dele, por mais palavras maduras e pedagogicamente embasadas que lhes dizemos por anos à fio. Estaremos sim, ensinando à eles a serem os mais velados e cristalinos hipócritas, porque o mestre silencioso chamado *exemplo* tem um eco muitíssimo mais forte que todas as palavras que lhes dizemos ao longo da vida, e esse mestre estará dizendo a ele que deve-se ensinar uma coisa e fazer outra.

Mas então poderíamos alegar para nos justificar: "ah, mas meu filho não me vê bebendo, nem vendo os filmes e menos ainda lendo". Ora, mas isso não seria sermos hipócritas conosco mesmos também? O filho pode não ver, mas *nós saberíamos* que estaríamos vivendo uma vida de mentiras, e por consequência ensinando os filhos a viverem dessa forma tão triste, porque independente dos filhos verem ou não verem, eles estão *inseridos* nessa família, convivendo, crescendo, sendo educados, interagindo e respirando dentro desse lar. Mesmo que ele não veja com seus olhos físicos, ele está mergulhado num ambiente que exala hipocrisia e mentira, e é sim influenciado de forma sutil e concreta.

Não adianta nós educarmos nossos filhos de uma forma restrita, politicamente e ecologicamente correta, se não *vivermos* de forma tão restrita quanto aquela que pregamos. Nossos filhos e a verdadeira educação deles deve valer mais para nós que refrigerantes, bebidas alcoólicas, cigarros, filmes e livros que são lixos culturais, ao ponto de renunciarmos à tudo isso se realmente acreditamos que não são boas coisas, tanto que ensinamos isso à nossos filhos.

Do meu ponto de vista, um pai que bebe muita cerveja e acha que beber é a melhor coisa da vida, e por isso molha a chupeta do filho no copo de cerveja dizendo à ele desde pequeno que ele tem que aprender as coisas boas da vida, apesar de estar totalmente errado em termos psicológicos e físicos, ele está sendo mais honesto que aquele pai de ensina o quanto a bebida é ruim e bebe depois, escondido ou não dos filhos. Porque embora ele esteja educando seu filho à ser um futuro alcóolatra físico e psicológico, ele está ensinando o que realmente acredita que é certo. Ele pode estar sendo um péssimo pai, mas está sendo um bom educador, dentro do que ele acredita ser uma boa educação. Embora falhando num aspécto realmente grave, ele está sendo honesto, errando por ignorância, não por negligência.

E nós quando não vivemos o que pregamos, quando não damos à nossos filhos nem mesmo o exemplo de honestidade, estamos sendo péssimos pais e péssimos educadores, errando por negligência, já que acreditamos que o que fazemos de errado, é mesmo errado. Estamos ensinando à eles que bebida não é bom, mas que escondido podemos beber. Estamos ensinando que bebidas faz mal à saúde *dos outros*, porque da nossa não deve fazer, já que embora ensinemos para os outros que é ruim, continuamos bebendo. Quando educamos nossos filhos assim, nós estamos falhando em todos os aspéctos, porque repercurte no físico (ele fará escondido, como viu os pais fazerem), no psicológico (mentir para si mesmo é uma das mais graves doenças psicológicas), no emocional (quem consegue conviver bem usando mil máscaras para se apresentar diante da sociedade?) e sobretudo moral (a hipocrisia foi o flagelo mais energicamente combatido pelo Cristo).E claro, estou colocando exemplos materiais, mas falo de todo tipo de vício, os morais também.

Quando nos tornamos pais, Deus não nos pede apenas que guiemos para o bom caminho um de seus Filhos. Ele nos convida também à irmos, junto com nossos filhos, para esse bom caminho. Como podemos segurar nosso filho pela mão na estrada de uma vida digna, boa, saudável e eticamente correta, se não caminharmos nessa mesma estrada junto com ele? Nós temos que perder a idéia de que, só porque Deus colocou criaturas sob nossa custódia, significa que estamos preparados para os educar sem que precisemos de nenhum ajuste ou mudança de vida. Deus educa-nos, enquanto educamos nossos filhos... Se Ele nos mostra o que é melhor para nossos filhos, mostra também o que é melhor para nós. Se conseguimos ver, entender, debater e até criticar quem vive de uma forma que achamos ruim, então é porque estamos mais que prontos à *viver* em todos os detalhes, aquilo que vemos, entendemos e debatemos que é o melhor.

Emmanuel, mentor de Chico Xavier, tem uma frase excelente sobre isso: "A palavra convence, mas o exemplo arrasta". E é assim. Com a palavra podemos até fazer nossos filhos entenderem no racional tudo aquilo que pregamos ser bom para eles, mas é com a força inexorável do exemplo, que os arrastamos para a saúde ou para a doença, dependendo exclusivamente da forma como vivemos.

Gandhi também tem uma colocação para isso: "Aquele que não é capaz de governar a si mesmo, não será capaz de governar os outros".

Em suma, é vivendo bem que educamos bem. É nos educando conforme educamos nossos filhos, que podemos ter mais esperança de um dia não dizermos a famosa frase: "Onde foi que eu errei?" É vencendo os nossos próprios vícios, que ensinamos nossos filhos a terem hábitos saudáveis. É renunciando à tudo aquilo que cremos ser ruim para nossos filhos, que vamos realmente ser dignos do papel que tentamos desempenhar com tanta dedicação e amor. Não basta amá-los, temos que nos amar também, e vivermos tudo aquilo que desejamos que eles vivam, para serem mais felizes e mais saudáveis. Não é fácil, e certamente vamos falhar muitas vezes, mas eles também verão que estamos tentando, e aprenderão outra linda e valiosa lição: errar enquanto tenta acertar e recomeçar sempre, sim. Desistir de investir no bem de si mesmo e daqueles que amamos, nunca.