segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Casamento e Interesse

Muito se fala sobre o casamento por amor, mas pouco se fala sobre o casamento por amor aos próprios interesses. E aqui não digo sobre os casamentos arranjados e motivados pelos bens materiais, mas de casamentos que podem até se formar por paixão, mas que depois se transformam em um típico jogo de interesses.

Penso que hoje, a maioria dos casamentos chegam à esse patamar um dia. Podem ter começado com amor, com paixão, com entusiasmo de construirem uma família, mas que depois, com o tempo e as mudanças naturais que os cônjuges sofrem, o casamento começa a funcionar apenas porque é mais interessante para ambas as partes que ele continue.

Vê-se, nesse estágio, as famosas aparências, que na maioria das vezes são mantidas para ambos os cônjuges mesmo, não necessariamente para a sociedade. Eles precisam acreditar que o casamento não acabou, que o amor não acabou, que a solidão íntima que vivem é questão de tempo, que tudo vai passar um dia, mesmo que esse dia fique cada vez mais longe, emocionalmente. Há cônjuges que sequer amigos conseguem ser, quiçá pares românticos. Mas mesmo quando isso é óbvio para qualquer um que tenha um pouco de intimidade com esse casal, eles continuam dizendo que "o amor deles transcendeu para um patamar mais evoluído de relacionamento": cada um vive sua vida mental e emocional, cada um tem seus amigos que sequer se conhecem entre si, cada um tem seus interesses, e no máximo concordam na educação dos filhos. É, realmente um patamar mais elevado sim, mas não de amor, e sim de auto-ilusão.

É triste ver um casal nesse ponto, onde a separação seria mesmo o mais saudável, por uma questão mesmo de auto-respeito. Das piores coisas que existem é uma mulher, por exemplo, se prostituir para o próprio marido. Aquela mulher que não sente mais nada pelo homem com que vive, que apenas está acomodada à vida que já construiu, mas que continua tendo que deitar-se com ele. Não tem outro nome para isso além de prostituição. Ela vive intimamente com um homem que não ama mais, que não a completa mais, que nem mesmo amigo dela é mais, em troca de ter uma família.

Vejo mulheres, em confidências (que por acaso não gosto de ouvir, mas até que aprendi a dizer não, ou melhor, "não me conte sua vida íntima com seu marido", eu ouvi bastante coisa), relatarem o quanto seus maridos são ruins de cama, com direito a piadas degradantes sobre o desempenho do companheiro, o quanto se sentem sozinhas mesmo acompanhadas, o quanto são incompreendidas e até tolhidas em escolherem desde os amigos até as coisas mais banais, e mesmo assim dizerem: estou com meu marido porque somos ótimos para educar os filhos, porque ele me dá uma vida estável, porque ele não me bate, não bebe e nem tem vícios. Isso é prostituição. Se entregam à um homem que não lhes dão prazer, que não amam e nem mesmo respeitam, e igualmente não são amadas e respeitadas, só para ganharem uma família, estabilidade e segurança no lar.

Enfim, o fato é: vivem com eles, têm vida sexual ativa e regular com eles, não por amor, mas por interesses pessoais. É prostituir-se para o próprio marido. E com agravantes, porque as prostitutas de luxo, em muitos casos, podem selecionar seus clientes, ou serem livres para terem uma vida só delas em paralelo: estudarem, viajarem, terem amigos, cuidarem de si mesmas. Essas esposas além de se prostituirem, estão presas à um homem que não lhes interessa nem emocionalmente e nem sexualmente, e não são livres para viverem a própria vida, e pelo menos crescerem pessoalmente enquanto mulheres.

E é por isso que acredito que, por mais difícil que possa ser para a pessoa, ela precisa desesperadamente assumir para si mesma a mentira que vive, para então, mesmo que seja aos poucos, ir se libertando dessa relação e aprendendo, pouco a pouco, a ir embora viver a própria vida, com dignidade e auto-respeito. Vivendo sozinha mesmo, ou encontrando um outro companheiro com quem ela possa fazer amor de verdade, partilhar o mundo dela, receber o mundo dele, sentir realmente prazer emocional na relação, em suma, ser feliz.

Há quem resista por anos e anos à fio numa relação assim, porque é mais importante para essas pessoas terem uma família tradicional, do que viverem a realidade da mudança, da necessidade de renovação e até da honestidade com eles mesmos. E muitos, mas muitos mesmo estão assim porque têm pavor de assumirem até para eles mesmos que o amor acabou, que a relação acabou, que simplesmente não deu certo, como muitas coisas na vida não dão. A maioria tem isso num nível quase consciente, que vêm à tona nos momentos de maior sofrimento, mas quase que instantaneamente, recolocam no subconsciênte e abraçam outra vez a máscara da estabilidade. É triste ver tanta gente sofrendo por medo...

Ficam todos os dias buscando detalhes que lhes provem que o amor ainda existe, ou procurando nas entrelinhas qualquer coisa que lhes diga que vale à pena continuar investindo. E cada dia esse investimento sai mais caro... Um dia, quando ambos estão doentes emocional e psicologicamente, "a casa cai", e não raras vezes o estrago é grande, de difícil recuperação. E muitas vezes o estrago é tão grande que eles nem tem mais coragem, condições e até disposição para recomeçarem.

Não há nada mais humilhante para uma pessoa que outra estar ligada à ela por compromisso ou interesse pessoal, mesmo que esse interesse seja a educação dos filhos. A união de qualquer casamento deve ser o amor e o prazer emocional que a vida à dois lhes proporciona, a saúde que o companheirismo autêntico lhes dão enquanto individualidades. Na verdade um casamento de mentira não trás estabilidade, não garante a segurança no lar e menos ainda educa os filhos, pelo contrário, destrói toda a esperança que eles poderiam depositar na sagrada instituição da família e na felicidade plena que o amor pode dar à nós, seres-humanos, que fomos criados por Deus para o amor, não para a mentira.

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