domingo, 12 de dezembro de 2010

Desatando Ilusões

Na maioria das vezes vivenciamos relacionamentos problemáticos e até doentios porque ficamos receosos de tomar uma atitude definitiva. Quando se trata de relacionamentos conjugais, passam-se anos e anos até que um dos cônjuges, ou até os dois, tomem a decisão necessária e saudável da separação definitiva. Quando se trata de amizades, podem-se passar anos à fio igualmente insistindo numa amizade que nada trás de construtivo, prazeroso e até fraternal à ambas as partes. As coisas acontecem, os anos passam e fica-se "perdoando", "perdoando", "perdoando", quando no fundo a sujeira está é sendo colocada embaixo do tapete, que cada vez fica mais sujo.

Um dia, como sempre acontece, essa sujeira sai... Um vendaval mais forte levanta ele do solo e toda sujeira é exposta. Nesse dia é praticamente inevitável um afastamento, até para que as partes possam ter tempo de limpar verdadeiramente o ambiente e quem sabe, um dia, voltarem a se encontrar naquele local, ainda que não continuem os mesmos vínculos de outrora. Algumas mágoas, por serem realmente profundas, precisam ser incineradas e muito bem desinfetadas, jamais abafadas ou engolidas, para que não nos dê intoxicações que possam resultar em cânceres de difícil cura na alma.

Há relacionamentos que se tornam tumores que precisamos extirpar, para que nossa alma possa ser limpa e curada. É uma situação muito difícil para quem, por necessidade ou até convicção religiosa, deseja "perdoar" (só convencionalmente, porque na verdade remói no fundo do coração uma mágoa secreta e inconfessável) e sofrer todas as dores do câncer até que ele leve à morte por metástese. Quando há perdão verdadeiro a alma se auto-cura e a relação, se não é para ser, extingue-se sem trazer qualquer dano psíquico. A ilusão acaba e o desenlace se faz naturalmente. Quando há apenas o aparente perdão a relação continua, mesmo quando não é para ser, trazendo imensos prejuízos emocionais e psíquicos, pois que é quase impossível conviver com um desafeto como se ele fosse um afeto e não se adoecer no processo.

Ou é afeto ou é desafeto, não dá para ser as duas coisas ao mesmo tempo. E o primeiro passo da cura é assumir para si mesmo e para Deus o que aquele irmão é no nosso coração. É desafeto? Então não ofereça à ele as flores sublimes da afeição que só os afetos podem receber sem as macular ou destruir. Nossa afeição sincera é uma flor muito delicada que entregamos nas mãos daqueles cultivadores que as regarão, cuidarão e a deixarão mais lindas. Não podemos dar essas flores para os desafetos, porque são delicadas demais, imprescindíveis demais para a harmonia e equilíbrio de nosso Jardim Íntimo.

Não podemos fingir para nós mesmos que um desafeto é um afeto, esteja ele em que posição for na nossa vida (marido, mãe, pai, irmão, amigo, etc). Temos que, antes de tudo, colocá-lo no devido lugar, para depois, com trabalho, cuidado e paciência, conduzí-lo pouco à pouco ao posto de afeto, se for esse o desejo de ambas as partes. Somos todos irmãos, acima de tudo. Mas não podemos fingir que nossa fraternidade é perfeita como são as dos anjos. Temos desafios imensos, e assumirmos isso é o caminho para a maturidade e para as conquistas afetivas eternas e construtivas.

Somos humanos, acima de tudo. Fadados à pureza espiritual, mas até que cheguemos nesse patamar, muitos desafios enfrentaremos com nossos escolhos pessoais. Muitos caminhos de espinhos caminharemos, e muitas dificuldades enfrentaremos dentro de nosso próprio coração. Ora teremos afetos, ora teremos desafetos, é inevitável. Nossa busca incessante não é para jamais termos um desafeto, mas para que, tendo algum, busquemos transformá-lo em afeto no tempo do nosso coração. Deus é paciente, não nos obriga a amar todos os nossos irmãos, apenas diz que um dia essa será nossa realidade, e que se permitirmos, Ele nos ajudará à chegarmos no fim desse caminho... Mas nunca nos obriga a sentirmos o que nosso coração não consegue sentir naturalmente. Ele nos conduz aos caminhos, nunca nos obriga a caminhar por eles com pressa, sob pena de perder Sua condução. Somos nós que nos impomos a perfeição antes do tempo, jamais Deus faz isso conosco.

Ele sempre nos dá tempo para que, naturalmente, por desejo e necessidade sinceras de nossa alma, caminhemos pelos caminhos que Ele nos traçou. À nós cabe o compromisso firme e incessante de jamais desviarmos desses caminhos e sobretudo, das mãos do Condutor...

8 comentários:

Anônimo disse...

Gostei imenso deste post. :)

Quando a sujeira sai toda debaixo do tapete, é aí que o laço se rompe de vez. E das piores formas. Depois fica bem difícil de sequer haver vestígios de uma amizade. Acho, sinceramente, que deixa de haver a possibilidade de qualquer relacionamento. Bom, talvez com o passar do tempo, quem sabe, mas nunca será a mesma coisa. Estaremos sempre de pé atrás... Mas a verdade é que é muito melhor romper esse laço do que estar constantemente a perdoar e a viver um relacionamento que não tem pernas para andar.

Beijinhos :)

Penélope Luz disse...

Eu juro que pensei em vc, porque sei que passamos pelo mesmo processo relativamente à uma amizade... :)
Escrevi esse texto para mim, porque ontem foi um marco na minha vida. Depois de 6 anos de intensa luta íntima, finalmente eu tive coragem de dizer para um desafeto que eu insisti doentiamente em transformar em afeto: "não tenho interesse afetivo algum em ser sua amiga ou conversar contigo. Nunca me escusaria em te servir no que vc precisasse, desde que não precise do meu envolvimento pessoal direto, mas não estou mais disponível para partilhar contigo uma amizade sincera e expontânea".
Estou me sentindo nas nuvens, sério! Como alguém que finalmente sai de uma prisão sufocante! No início me senti meio derrotada, mas à medida que a paz tomou conta de mim, fiquei muito feliz comigo mesma e me sentindo vitoriosa! :)
O meu sonho é isso que vc falou: sequer haver vestígios de uma amizade.
Obviamente que para mim ela continua sendo totalmente merecedora do meu respeito e até dedicação se esse dever se mostrar necessário um dia, porque acima de tudo ela é filha de Deus, e é meu dever servir sem olhar à quem, afetos e desafetos. Não seria diferente com ela. Minha dificuldade era tirá-la de um posto que não a consigo encaixar dentro de mim e colocá-la para fora da minha vida *pessoal*. Ela não é minha amiga, nunca foi. Ponto final. Demorei muito para entender esse fato, embora fosse tão absurdamente óbvio. Mas apesar de tudo, ela é minha irmã em cristo, como todos os outros seres do Universo. Só. É o máximo que posso oferecer à ela, depois de ter dado o mais profundo e sincero afeto, e de tê-lo visto ser destruído lenta e doloridamente. Assumir que não havia amizade, mas inimizade, foi um parto de 6 anos. O mais dolorido e sombrio de toda minha vida, e finalmente eu consegui, não só assumir (isso eu já tinha feito há meses), mas dizer para ela! Graças à Deus! :)
Não há mais nenhum lugar para ela na minha vida pessoal, e isso é definitivo. Ponto Final! :)

Beijo, minha linda!

Lu, a aliviada! :)

vinha disse...

Luuu que coisa linda (e verdadeira)!!
Você já pensou em escrever um livro? Hahahaha!!
Parabéns sempre =)
beijoo

Penélope Luz disse...

Oi linda! :)
Já pensei sim, até comecei a escrever um, mas já tem alguns anos que não escrevo ele... Está lá parado no pré-primeiro-encontro dos protagonistas. Ando sem inspiração para ele, mas um dia, quem sabe! :)

Obrigada minha amiga! :)

Beijinhos!

vinha disse...

Ahhhh continue escrevendo!! Vai fazer muito sucesso =)

Penélope Luz disse...

:)
Pra mim o sucesso é meio diferente da idéia de sucesso que se tem na maioria das vezes. Por exemplo, tem coisas que fazem um imeeeenso sucesso, vendem muito mesmo, mas não fazem bem às pessoas, pelo contrário, fazem mal. Penso que uma empreendimento de sucesso é aquele que faz o bem, mesmo que para uma única pessoa. Dessa forma tenho para mim que uma obra que venda apenas um exemplar e faça o bem para essa pessoa que o comprou, seja uma obra de muito mais sucesso que aquela que vendeu milhares de exemplares, mas se não fez o mal à todos, também não acrescentou nada para que ela se tornasse uma pessoa melhor moralmente.
Esse é meu problema com o livro... Eu não consigo ver como ele pode ser útil ainda. É um romance com tema de fundo o abuso sexual infantil dentro do próprio lar. É um tema que me comove muito mesmo, e que eu tinha o desejo de fazer algo não só pelas vítimas, mas pelos criminosos. Mas o livro tomou um rumo que agora não sei mais como continuar sem que ele acabe causando culpas em uma das partes. Talvez eu devesse reescrever tudo, mudando algumas coisas, mas não ando inspirada para isso. Quando for a hora, se for a hora, a inspiração vem. :) É o tipo de coisa que não se força, tem que ser natural. :)

Mas eu escrevo esses blogs justamente com a intensão de ser útil de alguma forma. Procuro sempre escrever coisas que em algum momento possa ser útil à alguém (sem contar com o blog de esmaltes, porque alí é um mimo para mim mesma enquanto mulher feminina que sou), e é melhor que o livro, porque é gratuito. Não recebo nada em troca, só a satisfação de servir. Prefiro assim. :)

Beijos linda, de novo, obrigada! :)

Anônimo disse...

Querida Lu,

Você tem o dom da palavra.
Parabéns!!!
Beijos da sua irmã Thaís.

Penélope Luz disse...

Thaisss!!! É uma honra e alegria sua visita! Minha irmã querida, linda e eterna!
Te amo muito!!!

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