terça-feira, 22 de março de 2011

Amizade não acaba...

"Amizade que acaba é porque nunca começou". (Mario Sérgio Cortella)

Essa frase pequena e singela diz uma verdade ampla e profunda. Ao longo da nossa vida nós vemos passar muitas pessoas, e a maioria delas em determinado ponto da nossa caminhada se tornam "amigas". Tão amigas que até passamos a conviver com ela diarimente, a confidenciar nossas coisas, a pedir conselhos e tudo o mais.

Mas eis que um dia há um problema qualquer e a amizade acaba. Acaba mesmo, de tal forma que a pessoa não faz nenhuma falta, e até achamos muito melhor que ela não faça mais parte da nossa vida. A pessoas realmente passou e não deixou boas lembranças... É então que paramos para pensar: será que algum dia houve mesmo uma amizade? Como não, se haviam altas conversas, risos e muitas coisas que caracterizam uma amizade?

Como pode uma amizade ter todo o jeito de amizade e no fim percebermos que nunca houve de fato amizade, apenas o que podemos chamar de coleguismo? É quando podemos aprofundar na frase de Mário Sérgio Cortella e refletirmos que se acabou é porque nunca começou...

O que caracteriza a amizade não são os risos, as conversas ou as confidências, mas o *afeto*. Aquele afeto especial que nos faz amar acima dos risos ou choros, das conversas ou do silêncio, das confidências ou dos segredos. Aquele afeto que existe indubitavalmente, independente da pessoa ser boa ou má companhia num determinado dia, dela estar feliz ou triste e até dela estar do seu lado ou contra você.

A verdadeira amizade não acaba porque o afeto verdadeiro não é algo que pode ser apagado da nossa alma, não é algo que exige recompensas ou que reflita qualquer tipo de interesse de nossa parte. O afeto apenas existe e só. O tempo e a distância não apagam a chama, não modificam os sentimentos e a pessoa continua existindo na nossa vida e no nosso coração mesmo sem estar presente, mesmo sem contato algum. Como diz o antropólogo Magnani: "Na amizade sólida o tempo é uma contingência. Não afasta, apenas adia". Podemos passar anos a fio sem até notícias de um amigo, mas quando o reencontramos é como se nenhum dia houvesse passado, apesar das novidades que certamente ter-se-á para partilharem.

Se tínhamos uma super amizade com alguém que podemos até ter acreditado ser o supra-sumo dos amigos e um dia essa amizade acabou sem deixar rastros de afeto, saudade ou boas lembranças, é porque essa amizade jamais existiu. Um amigo nunca deixa de ser amigo. Uma amizade nunca deixa existir. Um problema, por maior que seja, nunca apaga um verdadeiro afeto. Um amigo, por mais defeitos humanos que tenha, nunca trai, abandona, calunia, age como se você fosse um estorvo ou pensa de você o que ninguém pensaria. Amigo algum, por pior que ele seja, deixa de ter as características básicas de um amigo: lealdade, confiança, sensibilidade e constância, mesmo na distância do tempo e do espaço.

A verdadeira amizade pode sofrer abalos sísmicos até gravíssimos, mas nunca será destruída... Se os abalos a destruírem, é porque ela era apenas ilusão...